As pesquisas sobre a maneira como os cães percebem o tempo são limitadas. No entanto, podemos aprender mais sobre isso quando observamos a extensa análise feita com outros animais, como roedores, pássaros e primatas. Em seus estudos sobre a maneira como os animais percebem o tempo, o pesquisador do comportamento animal William Roberts tirou algumas conclusões notáveis em relação às lembranças dos animais, expectativas, entre outras coisas. Ele diz que os bichos estão "parados no tempo" [fonte: Roberts (em inglês)]. Com isso, quer dizer que sem as capacidades sofisticadas necessárias para perceber o passar dos anos, como realmente guardar lembranças, os animais vivem apenas no presente. Roberts acredita que estão "parados no tempo" porque não conseguem "viajar pelo tempo" mentalmente. Os humanos conseguem relembrar memórias específicas e antecipar acontecimentos de maneira consciente e intencional. Os animais não.

Para muitos, essa parece ser uma teoria enganosa. Afinal, nós podemos treinar os animais, certo? E esse treinamento não depende das lembranças dos próprios animais?

Não necessariamente, pelo menos não da maneira como costumamos pensar nas lembranças, de acordo com Roberts. Os animais podem ser treinados para fazer determinadas coisas do mesmo modo como crianças são treinadas. De acordo com pesquisas sobre crianças, com quatro anos de idade elas já aprenderam muitas coisas, como engatinhar e andar, mas ainda não possuem a capacidade mental para conseguir lembrar onde e como essas coisas foram aprendidas [fonte: O'Neil (em inglês)]. Em outras palavras, elas não possuem a memória episódica, ou a capacidade de relembrar acontecimentos específicos no passado. Um cão sabe como responder ao comando "senta" sem ter a lembrança do momento específico em que ele aprendeu isso.

No entanto, essa não é a única coisa que acontece no cérebro do cão para ajudá-lo, por exemplo, a prever perfeitamente a hora de chegada de seu dono. Processos biológicos internos também exercem suas funções, de acordo com Roberts. Os pesquisadores descobriram através de experiências com pombos que um "relógio interno" permite que eles aprendam quando e onde a comida (em inglês) estará disponível [fonte: Saksida (em inglês)]. De maneira parecida, os cães podem usar os osciladores circadianos, que são oscilações diárias de hormônios, temperatura corporal e atividade do sistema nervoso, para saber quando é provável que a comida esteja na tigela ou quando os donos voltarão do trabalho. Em vez de lembrar a quantidade de tempo entre as refeições ou a hora em que elas são servidas, os cães reagem a um estado biológico que eles alcançam em um determinado momento do dia. Então, todos os dias eles reagem a esse estímulo da mesma maneira e no mesmo horário.

  Se os animais não conseguem guardar as lembranças como os humanos fazem, será que eles conseguem planejar o futuro? Na próxima página, vamos aprender o que os cães entendem sobre o amanhã.